Projeto pioneiro de redes comunitárias leva internet de qualidade a áreas rurais de Campos dos Goytacazes e São João da Barra, transformando vidas e impulsionando o desenvolvimento local.
Um projeto inovador transforma a realidade digital de comunidades rurais no Norte Fluminense. As redes comunitárias de internet, implementadas em Barra do Açu e com plano de expansão de Marrecas e Quixaba, levam conexão de qualidade a regiões antes desassistidas pelas grandes operadoras.
A iniciativa, fruto de parceria entre o Instituto Bem-Estar Brasil (IBEBrasil) e a Internet Society Foundation (ISOC Foundation), conta com apoio da Porto do Açu, Prefeitura de São João da Barra, Forte Telecom, Instituto Federal Fluminense (IFF) e ITEP/Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF).
A ação prevê inicialmente beneficiar cerca de 500 famílias, com perspectiva de alcançar 15 mil em 22 localidades da Baixada de Campos dos Goytacazes e do Sertão de São João da Barra através de projetos futuros junto aos parceiros na captação de recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST) e ações orçamentárias de inclusão digital.
A conclusão da primeira etapa do projeto no final de novembro em Barra do Açu trouxe muitos aprendizados. Um trabalho que foi realizado graças à parceria do IBEBrasil com a Associação de Moradores e Amigos do Açu (AMA).
– A questão de redes comunitárias perpassa não só pela parte técnica e de sustentabilidade, mas principalmente pela autogestão. Ter comunidades já engajadas, imbuídas em querer trabalhar em prol do bem comum, de poder compartilhar e empoderar o seu território, ter essa consciência, acho que é uma lição que a Barra do Açu pode levar para outras redes comunitárias – salientou Marcelo Saldanha, presidente do IBEBrasil
As redes comunitárias são estruturas formadas e geridas pela própria comunidade, oferecem internet de boa qualidade a baixo custo, fortalecendo os laços locais com o estímulo para o surgimento de novos potenciais.
Lucíola Marçal, coordenadora de Relacionamento com Comunidade do Porto do Açu, comentou sobre a importância da ação para o território:
– A gente está celebrando o desenvolvimento social e econômico dessas comunidades, que já perceberam o grande potencial em se unir e entender a potência que é trabalhar em rede comunitária.
Capacitação e Empoderamento
O diferencial do projeto está na capacitação dos moradores locais. Por meio de oficinas, a comunidade aprende desde conceitos básicos de informática até a instalação e manutenção dos equipamentos de rede.
O diretor do IBEBrasil, Thiago Paixão, comentou sobre a formação básica dos técnicos comunitários:
– É uma coisa muito interessante que observamos onde as pessoas que atuam como técnico comunitário, normalmente, são pessoas que tinham zero conhecimento sobre essa questão e que, com treinamento, conseguem absorver um pouco dessa técnica.
Maria Eduarda Camilo que atua como técnica comunitária do projeto de Barra do Açu, destaca o valor da experiência adquirida:
– Hoje, tenho conhecimento sobre internet que antes eu não tinha nessa profundidade. Vejo como algo inovador que a associação trouxe para gente. É algo que realmente está fazendo a diferença na comunidade – concluiu.
Ana Beatriz Mota, presidente da AMA Açu, reforça o impacto da iniciativa e fala da importância do empoderamento que o processo associativista promove:
– Uma rede comunitária precisa estar nesse sistema associativista para se sustentar e ter visibilidade. A experiência tem superado as expectativas. Já temos uma gestão participativa na associação, e ter uma autogestão que busca essa participação faz toda a diferença. Cada integrante da equipe é realmente um ator com seu papel.
Impacto na Comunidade
Os moradores já sentem os efeitos positivos da conectividade. Além do acesso à informação, a internet facilita tarefas cotidianas e abre novas oportunidades:
– É uma internet comunitária muito satisfatória no que ela vem trazendo para a gente, e não só para mim. Eu acho que para toda comunidade, porque muitos que não tinham acesso à internet, com essa opção, estão conseguindo ter acesso. E tem sido muito satisfatória – disse a moradora Charlene Borges que é usuária da rede comunitária de internet de Barra do Açu.
Expansão
Fernando Maciel, gerente do programa de qualificação técnica de São João da Barra, liderou uma articulação que resultou em uma parceria inovadora com a Forte Telecom para oferecer links de alta capacidade a custo acessível.
O PMO da Forte Telecom Felipe Quintanilha reforçou o apoio à iniciativa. Como resultado, Marrecas recebeu um link de fibra óptica de 400 Mbps, e Barra do Açu receberá 300 Mbps em dezembro à preços e condições acessíveis à realidade socioeconômica dessas comunidades.
Cazumbá e Quixaba serão conectadas até março de 2025, garantindo a conectividade da região.
– Estamos falando de inclusão, de dar oportunidades, de permitir que aqueles que mais precisam possam competir de igual para igual – disse Maciel sobre a importância do projeto.
Marcelo Saldanha, presidente do IBEBrasil, destaca a importância de gerar novos avanços nas negociações com órgãos governamentais:
– Embora ainda haja questões a serem ajustadas, estamos otimistas. As recentes alterações no caderno de projetos para atender provedores de pequeno porte são um passo na direção certa.
A parceria com a Forte Telecom também prevê o apoio do IBEBrasil na elaboração de projetos para captação de recursos junto ao Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST).
– Essa iniciativa do FUST, se ela efetivamente for concretizada, que é o recurso chegar para as áreas que precisam desenvolver esses projetos, a gente consegue atender tanto aquela região que é uma área de sombra hoje ou uma área que tem uma qualidade ruim. Hoje a gente sabe que as aplicações da internet exigem cada vez mais o volume de banda. Então antigamente você tinha um volume muito baixo que você usava para acessar a página na internet. Hoje não, hoje os conteúdos estão quase que na totalidade na internet – explicou.
Parcerias e Responsabilidade Social
Para ampliar o sucesso do projeto e aumentar o número de beneficiados, existe a importância de fortalecer as parcerias no âmbito das ações de responsabilidade social. Saldanha acrescenta:
– Para cada 1% a mais de pessoas incluídas digitalmente, o PIB aumenta em média 0,19%. Estamos transformando vidas, promovendo um desenvolvimento socioeconômico que seja para todos.
O gerente de relacionamento do Porto do Açu Wanderson Primo destaca:
– Apoiar projetos como este faz parte de nossa estratégia de responsabilidade social. Vemos o potencial transformador que o acesso à internet tem nas comunidades do entorno do porto.
As redes comunitárias de internet no Norte Fluminense representam mais que conectividade universal e significativa. Elas simbolizam empoderamento, inclusão digital, educação e acesso a novas oportunidades.
À medida que o projeto avança e se expande, transforma não apenas a realidade digital, mas toda a dinâmica social e econômica das comunidades envolvidas, tornando a região um modelo de referência em conectividade comunitária e inclusão digital no país.