Inclusão Digital: entre avanços e pendências na agenda regulatória  

Anatel e sociedade civil buscam conciliar interesses em prol da inclusão digital  para garantir a inclusão digital e o acesso à internet de qualidade.

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e a sociedade civil avançam em um diálogo complexo para superar os desafios da inclusão digital no Brasil.  A criação do Grupo de Trabalho Redes Comunitárias (GT RCom) pela agência foi um sinal para a construção de um ambiente regulatório mais aberto e participativo.  

A agenda regulatória da agência, de acordo com especialistas, aponta para a necessidade de criar medidas para garantir a inclusão digital e o acesso à internet de qualidade para todos os brasileiros. 

O Instituto Bem-Estar Brasil (IBEBrasil), organização que atua na defesa de políticas públicas para a inclusão digital, reconhece os avanços representados pelo GT RCom, mas defende que a Anatel pode avançar na promoção da conectividade significativa. 

– A participação da sociedade civil na construção de políticas públicas é fundamental, mas não podemos nos eximir de cobrar da Anatel para que possamos encontrar caminhos de superação dos desafios da inclusão digital de forma mais célere – afirma Marcelo Saldanha, presidente do IBEBrasil.  

Ainda segundo Saldanha “é preciso ir além do diálogo e transformar as demandas da sociedade em ações concretas que garantam o acesso à internet como um direito fundamental.” 

Um dos pontos apontados pelo IBEBrasil com necessidade de revisão, é o modelo de aplicação de sanções às operadoras de telecomunicações.  

A organização defende que a conversão de multas em investimentos em projetos de inclusão digital, com foco em áreas com baixa cobertura e acompanhamento transparente dos resultados, seria uma medida mais efetiva do que o modelo atual de beneficiar somente o pagamento das multas aplicadas em detrimento do fechamento de acordos através das obrigações de fazer. 

O debate sobre o “Fair Share”, que ganhou destaque nos últimos meses, também é visto com ressalvas pelo IBEBrasil.  

O IBEBrasil, membro do Comitê de Redes Comunitárias, mapeia e acompanha as principais ações da agenda regulatória da Anatel. O trabalho mais recente faz parte do projeto Maior Liberdade na Internet, uma iniciativa que visa entender como estão os processos que permitam garantir a liberdade na internet e democratizar o acesso à conectividade significativa no país.  

O estudo realizado é abrangente e foca em questões críticas que afetam diretamente o futuro da internet no Brasil e no mundo, com implicações significativas para milhões de usuários. 

Cenário para a inclusão 

O cenário regulatório das telecomunicações no Brasil enfrenta desafios significativos para promover a inclusão digital e o acesso universal à internet de qualidade.  

A análise da agenda regulatória da Anatel revela pontos críticos que demandam atenção e ação imediata. 

Um dos principais obstáculos identificados refere-se ao Regulamento de Aplicações de Sanções Administrativas. As multas e obrigações de fazer (ODFs) impostas às operadoras não se traduzem em benefícios concretos para a sociedade na atualidade.  

O IBEBrasil propõe que as ODFs sejam direcionadas para projetos de inclusão digital, com acompanhamento transparente e eficiente. 

A reavaliação do Regulamento de Avaliação da Conformidade e Homologação de Produtos também se mostra crucial. As normas atuais criam barreiras à entrada de equipamentos mais acessíveis e limitam a implementação de soluções inovadoras, como redes comunitárias. 

Flexibilização das regras 

A flexibilização dessas regras permitiria a homologação diferenciada de equipamentos para inclusão digital, incluindo ajustes de firmware e parâmetros de potência para uso comunitário. 

O Plano Estrutural das Redes de Telecomunicações e o Plano Estratégico da Anatel (2023-2027) visam reduzir desigualdades regionais e sociais no acesso à internet.  

No entanto, áreas economicamente menos atrativas ainda carecem de infraestrutura adequada. A concentração dos serviços em grandes grupos econômicos agrava a exclusão digital, porém, há de se reconhecer a novidade no novo texto regulatório que se encontra em discussão na agência, onde as redes comunitárias foram destacadas como uma alternativa viável para combater a exclusão digital em áreas desatendidas e sem interesse econômico de operadoras comerciais. 

Uso do espectro de 6GHz 

A revisão do Regulamento de Uso do Espectro de Radiofrequências apresenta-se como uma oportunidade para promover o uso eficiente do espectro e viabilizar novos serviços em áreas carentes.  

A implementação do WiFi 6, utilizando a totalidade das faixas de 6 GHz, promete maior velocidade, capacidade e eficiência, especialmente para iniciativas de conectividade comunitária e desenvolvimento de serviços IoT.  A Agência precisa garantir que o WiFi 6 tenha viabilidade técnica para atender as demandas de conectividade mantendo a totalidade da faixa destinada para esta tecnologia. 

O Plano Geral de Metas de Competição (PGMC) também necessita de ajustes para promover efetivamente a inclusão digital.  

Cidades Digitais e redes comunitárias 

A atual estrutura regulatória não contempla adequadamente iniciativas públicas e sociais, como cidades digitais e redes comunitárias. A falta de incentivos para prestadores não comerciais cria barreiras significativas à entrada e operação dessas iniciativas. 

Marcelo Saldanha, presidente do Instituto Bem-Estar Brasil, enfatiza:  

–  As políticas regulatórias devem incentivar investimentos em infraestrutura, especialmente em áreas desfavorecidas, e promover o uso de tecnologias mais eficientes. Só assim poderemos reduzir efetivamente as desigualdades no acesso à internet no Brasil.” 

O IBEBrasil defende uma série de soluções para enfrentar esses desafios. Entre elas, destacam-se a expansão da cobertura de fibra óptica através de redes de transporte, o desenvolvimento de infraestrutura em áreas urbanas desatendidas, a implementação de políticas de subsídios regionais e o apoio a iniciativas às redes comunitárias. 

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