As novas tecnologias da informação e comunicação tem transformado o modo de vida de toda sociedade, e pode-se considerar que estas novas tecnologias, que são mais maleáveis, criam condições de apropriação por uma maior parcela da população. As tecnologias anteriores a essa, por exemplo as que proporcionaram a produção industrial, era de alto custo, necessitavam de grandes áreas, demandavam grande investimento para funcionar, como numa fábrica, com isso a possibilidade de apropriação tendeu a se reduzir a parcela da população com maior poder aquisitivo, afinal nada que é muito caro é possível ser disseminado em larga escala.
Então um dos aspectos radicais das novas tecnologias é a possibilidade de acesso a elas, mais do que as consumir, é possível produzi-las. A construção das redes comunitárias pode ser compreendida neste novo cenário.
Álvaro Vieira Pinto, importante filosofo brasileiro, dedicou parte de sua obra para pensar as novas tecnologias, em uma de suas obras nos sugere a fazer uma apropriação critica da tecnologia, afinal apenas a condição material não proporciona alterar a qualidade, é preciso haver uma vontade consciente do que se fazer com ela. A tecnologia em si, não é boa nem ruim, a questão é o que nós seres humanos fazemos com ela.
Ainda na obra do autor citado, ele diz que comumente temos 3 reações frente as novas tecnologias e essas precisam ser superadas, a primeira reação é de “embasbacamento/maravilhamento”, onde as pessoas tendem a achar que a nova tecnologia por si só irá resolver todos os problemas do mundo. A segunda reação esta em querer separar a tecnologia do homem, dicotomizar, por vezes colocando a tecnologia como inimiga do próprio homem, e por fim, a terceira reação é considerar a personificação como se a tecnologia em si fosse boa ou má, para ele a tecnologia é eticamente neutra.
O debate crítico da tecnologia se faz necessário para que possamos melhor compreender os desafios e sentidos na apropriação e desenvolvimento de uma rede comunitária. Sem esse debate, as perguntas e respostas sobre rede comunitárias tendem a ficar esvaziadas de sentido, muitas vezes reduzidas a questão monetária.
A tecnologia em si, não é boa nem ruim, a questão é o que nós seres humanos fazemos com ela.
Diante da possibilidade de apropriação do manusear, produzir, cria-se condição de questionar se o que está disponível responde as nossas reais necessidades. As ferramentas já prontas (comercializadas), a distribuição do sinal desigual, a pressão por consumo padronizados tipo Tik Tok, redes sociais etc, passam a ser questionadas. Será que em determinado local a necessidade seja outra? Outras ferramentas, outras relações de contato? O ‘poder-fazer” nossas redes, gera possibilidades múltiplas para além da reprodução da imposição comercial.
Numa fala de um grande militante das causas sociais, Cleodon Silva, ele dizia que a construção das redes comunitárias poderia recriar “territórios livres”. A apropriação e desenvolvimento dessas redes ainda não está dominada pelo capital, é possível construir espaços interligando pessoas, distribuindo diversos conteúdos, oferecendo conhecimentos necessários para alimentar os desejos de mudança da população. As novas tecnologias da informação e comunicação estão em disputada, e nós das redes comunitárias estamos brigando por elas.