“Boa tarde a todas e a alguns poucos” – Diante de um auditório com mais de 500 mulheres e um punhado de homens, essa foi a frase de apresentação no encerramento do LATINITY, evento ocorrido dias 6 e 7 de Setembro em San José, Costa Rica
Latinity é uma conferência latino americana inspirada na Grace Hopper Celebration , a maior conferência de mercado que celebra as mulheres em computação. O evento reuniu em 2018 mais de 20.000 pessoas de 78 países. Nas palavras de uma de suas idealizadoras: “Nosso evento é como a (conferência) Grace Hopper, mas na América latina, com nosso ‘sabor latino’, nossa realidade e problematicas.”
LATINITY é descrito como ‘um lugar onde mulheres latino americanas apaixonadas por tecnologias se encontram.’ Por 2 dias as participantes aprendem, refletem, trocam experiências e propostas baseadas em tecnologias e tem a oportunidade de conhecer outras mulheres latinas que dividem os mesmos interesses.
“É um espaço para apresentar avanços em nosso trabalho, realizar workshops, compartilhar resultados de pesquisas, fazer amizades, apoiar-se como mulheres na região da América Latina. É um lugar para aprender, ensinar, construir e fortalecer laços de amizade e carinho. É também um espaço para análise crítica do papel da tecnologia em nossa região da perspectiva de nós mesmas e um lugar para propor soluções para os principais desafios e riscos que identificamos na sociedade digital. É um espaço para o intercâmbio com mulheres líderes da região sobre questões de gênero em Ciência, Tecnologia, Arte, Engenharia e Matemática (STEAM).”
“Não queremos mais mulheres na tecnologia para que tenha mais mulheres na tecnologia. Queremos mais mulheres na tecnologia para que tenha mudanças na tecnologia.” Kemly Camacho – Sula Batsú
A conferência existe desde 2015 e já foi hospedada pelo Chile, Peru e Colômbia. Este ano, o país anfitrião foi a Costa Rica, pela primeira vez trazendo a conferência para a América Central e com número recorde de participantes: mais de 500, sendo 120 participantes bolsistas cuja presença foi financiada integralmente por vários patrocinadores.
Em todas as atividades ou no grande auditório era possível ver mulheres de diferentes países, culturas e muita diversidade. Apesar da maior parte das mulheres e meninas participantes serem jovens, havia muitas bolsistas de regiões rurais da Costa Rica, mulheres indígenas e mulheres campesinas. Essa troca entre mulheres tecnologistas e mulheres não-tecnologistas é um dos pilares defendidos pela organização que hospedou o evento em Costa Rica; a Sula Batsú.
“Mulheres tecnologistas devem se juntar com mulheres não tecnologistas. Com mulheres na agricultura e mulheres indígenas. Somente dessa forma teremos uma tecnologia que reflita a realidade de diversas mulheres.” – Kemly Camacho – Sula Batsú
Carla Jancz foi convidado pela APC em nome do Instituo Bem Estar Brasil para participar de duas atividades em parceria com a organização Colnodo, da Colombia:
- Um painel multicultural sobre redes comunitárias para troca de experiências do Brasil, Colômbia e Honduras
- Um workshop técnico sobre rede Mesh e a FUXICO, um projeto brasileiro de rede autônoma feminista que foi traduzido para o espanhol para essa apresentação
Ambos os painéis foram muito interessantes e trouxeram pontos de conexões entre projetos de distintos países latinos. A participação em outros workshops e apresentações também foram muito enriquecedoras, onde as presentes puderam conhecer iniciativas de países latino americanos como Colombia, Costa Rica, Equador, Honduras, Nicarágua e Guatemala.
“Houve um momento no projeto que foi muito lindo quando mulheres indígenas rurais da Guatemala subiram suas histórias para a Wikipedia em sua própria língua. Temos 22 etnias na Guatemala e 22 idiomas. “ – Relato sobre projeto TICas que desenvolve trabalhos na área de tecnologias digitais e de comunicação com meninas e adolescentes.
Em nosso painel de redes comunitárias, perguntaram-nos o que acreditamos ser a coisa mais importante em um projeto como este. Acreditamos que as respostas apresentadas podem ser divididas para toda a comunidade:
- Formação e continuidade: configurar a rede é apenas o primeiro passo.
- Flexibilidade: Não se pode entrar em um projeto de rede comunitária com uma mente fechada
- Força de vontade: trabalho duro e resiliência
“Para mim o mais importante de um projeto de redes comunitárias é ser flexível. Muitas vezes estávamos em um treinamento no campo, capacitando as mulheres a operarem os equipamentos e tínhamos que parar durante uma prática do dia para a comunidade rezar por chuva. Era seu costume e tínhamos que respeitar. Depois as mulheres nos agradeceram, dizendo que fomos os únicos forasteiros que respeitaram seus costumes. Isso valeu muito.” – Rádio Azacualpa – Honduras