O projeto Maior Liberdade na Internet realizado pelo IBEBrasil concentra-se em dois temas principais que têm o potencial de remodelar drasticamente a paisagem digital brasileira.
O Instituto Bem-Estar Brasil (IBEBrasil) desenvolve um estudo que visa entender o cenário da internet no Brasil. O projeto Maior Liberdade na Internet, é uma iniciativa ambiciosa que visa entender como estão os processos que permitam garantir a liberdade na internet e democratizar o acesso à conectividade significativa no país.
O estudo realizado pelo IBEBrasil é abrangente e foca em questões críticas que afetam diretamente o futuro da internet no Brasil e no mundo, com implicações significativas para milhões de usuários.
Os dados do caderno setorial do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) reforçam a percepção de que no Brasil o acesso à internet é precário.
Divulgado em abril deste ano, o estudo Conectividade Significativa: propostas para medição e o retrato da população no Brasil expõe uma realidade alarmante: apenas 22% dos brasileiros com dez anos de idade ou mais têm condições satisfatórias de conexão à internet.
A situação é ainda mais grave nas zonas rurais, onde esse índice cai para meros 7%.
O projeto Maior Liberdade na Internet concentra-se em dois temas principais que têm o potencial de remodelar drasticamente a paisagem digital brasileira: a alocação do espectro de 6 GHz para WiFi 6 e a análise das propostas de “Fair Share”.
O presidente do IBEBrasil, Marcelo Saldanha, explica:
– Nosso objetivo é fornecer uma análise abrangente e qualificada dessas questões críticas. Queremos garantir que as políticas de internet no Brasil promovam um acesso verdadeiramente democrático e inclusivo, sem comprometer a inovação ou a liberdade dos usuários.
O projeto destaca a importância da conectividade significativa, um conceito que vai além do simples acesso à internet. Envolve uma conexão que seja rápida, estável, acessível e capaz de suportar as necessidades digitais dos usuários modernos.
O estudo do NIC.br mostra que estamos longe desse ideal, com 57% da população não atendendo nem metade dos critérios para uma conexão de qualidade.
Entenda o que é WiFi 6?
O WiFi 6 é uma das mais recente geração de tecnologia WiFi, também conhecida como 802.11ax. Oferece velocidades mais altas, menor latência e suporte para mais dispositivos conectados simultaneamente.
É ideal para o crescente ecossistema de Internet das Coisas (IoT) e para o desenvolvimento de cidades inteligentes, bem como, atender a demanda crescente de tráfego nas residências e empresas em todo o planeta.
A liberação do espectro de 6 GHz para WiFi 6 poderia melhorar significativamente a qualidade e a acessibilidade da internet, especialmente em áreas remotas e mal atendidas.
O estudo Maior Liberdade na Internet defende que a liberação total do espectro de 6 GHz para WiFi 6 poderia ser uma solução eficaz para muitos desses problemas.
O WiFi 6 oferece vantagens significativas em termos de custo, flexibilidade e qualidade de serviço.
Além disso, sua facilidade de implementação e manutenção poderia promover a inclusão digital de maneira mais eficaz, especialmente em áreas onde as grandes operadoras de telecomunicações não alcançam ou onde os custos seriam proibitivos
Entenda o que é Fair Share?
Fair Share, ou “compartilhamento justo”, é uma proposta que sugere que as grandes empresas de tecnologia deveriam pagar mais às grandes operadoras de telecomunicações pelo uso da infraestrutura de rede.
Seus proponentes argumentam que isso poderia financiar a expansão da infraestrutura privada nos países, mas críticos temem que possa levar a um aumento nos custos para os usuários finais, degradar o serviço através de modelos comerciais predatórios e violar o princípio de neutralidade da rede.
O projeto também analisa criticamente as propostas de Fair Share. Enquanto alguns argumentam que isso poderia gerar recursos para a expansão da infraestrutura, o estudo alerta para os possíveis impactos negativos na neutralidade da rede, na qualidade do serviço e no custo final para os usuários.
Sobre o modelo Fair Share, o Marcelo Saldanha faz uma crítica contundente:
– O Fair Share é apresentado como uma solução para financiar a expansão da infraestrutura privada, mas na realidade, é um modelo que pode prejudicar significativamente o usuário final e degradar consideravelmente o uso da internet. Primeiro, ele ameaça a neutralidade da rede, um princípio fundamental para uma internet livre e aberta. Segundo, é provável que os custos adicionais impostos às grandes empresas de tecnologia sejam repassados aos consumidores, tornando os serviços mais caros ou indisponíveis, principalmente, pelos usuários em estado de vulnerabilidade.
Saldanha do IBEBrasil ressaltou ainda que modelo do Fair Share pode sufocar a inovação, criando barreiras de entrada para novos modelos e startups que não podem arcar com esses custos adicionais.
O Fair Share pode resultar ainda em uma internet menos diversa, mais cara e menos acessível para o cidadão comum.
O presidente do IBEBrasil propõe como alternativa ao modelo proposto de financiamento de redes privadas das grandes empresas de telecomunicações, direcionando eventuais contribuições das grandes empresas de plataformas e serviços online ao FUST (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações), que seguem regras com base no interesse público e não simplesmente o fomento de mais infraestrutura privada sem qualquer equidade no atendimento de políticas públicas.